Introdução
O surgimento do filme documental originou-se do desejo de capturar com uma câmera a
realidade dos indivíduos, as experiências humanas do tempo e no espaço, com o propósito, a
princípio, de informar e envolver o espectador por meio de um discurso direto. Na evolução do
gênero, uma nova abordagem, para este formato de fazer filmes, emergiu com os trabalhos de
Robert Flaherty na década de 1920, o que resultou na criação do que é considerado o primeiro
filme de não ficção, “Nanook, o esquimó” (1922). A partir de então, o conceito de documentário
passou a ser usado para descrever o gênero cinematográfico que retrata eventos do mundo real.
Em outras palavras, o documentário é visto como uma “produção audiovisual que documenta
eventos, personagens e situações ancoradas no mundo real (ou histórico), tendo como
protagonistas os próprios ‘sujeitos’ da ação” (Lucena, 2018: 11). Assim, pode-se dizer que o
cinema nasceu como documentário.
Os filmes, ao longo do último século, documentaram e registraram aspectos da vida cotidiana,
como em A Saída da Fábrica Lumière em Lyon e A chegada do trem na estação (1895) dos
irmãos Lumière. Ganhou espaço para a representação da imaginação fílmica ao principiar a
utilização de roteiros, figurinos, atores, cenários e maquiagem, como nos trabalhos de George
Méliès (1861-1938) em Viagem à lua (1902) e A conquista do Pólo (1912). Com D. W. Griffith,
se estabeleceu as bases da uma nova linguagem fílmica ao introduzir elementos como os closes,
a montagem paralela, a alternância de gêneros, o galã e a mocinha indefesa, inaugurando, assim,
nas primeiras décadas do século 20, uma poderosa indústria cinematográfica. Os filmes também
foram utilizados como instrumento de difusor de ideologias dado o seu poder pedagógico de
gerar símbolos junto à sociedade, sobretudo nos momentos de tensões políticas e militares
durante a primeira metade do século passado (Lucena, 2018).
Nessa jornada, o cinema introduziu, para além de ilustrar eventos do cotidiano ou paisagens,
uma linguagem nova com imagens em movimento ao representar e narrar as ações humanas,
resultado de experiências individuais e coletivas, evidenciando suas tensões, paixões,
imaginações, fantasias, rupturas e/ou continuidades históricas. Isso possibilitou, de uma forma
revolucionária, a difusão da informação, da narrativa do fato ocorrido ou imaginado, bem como
a capacidade de produzir problematizações no campo do ensino e do ensino de história.
Imprimiu o retrato de novas formas de pensar, representar e criar a si próprio, sujeitos e
instituições, fenômenos políticos, sociais, culturais, econômicos e históricos. Assim, os filmes
podem e têm sido utilizados como registro do real, sob a perspectiva do cineasta, como produto
para atender à demanda do setor de entretenimento, e, mais recentemente, para processos
educativos. Não é novidade que o filme produz imagens que educam.
Essa possibilidade de reconstrução histórica através do audiovisual está encontrando seu lugar
nos espaços de formação e educação, fornecendo uma alternativa de aprendizagem como
complemento aos outros instrumentos de aprendizagem histórica, como do livro didático. Por
um lado, os filmes e documentários, alinham suas narrativas com o material didático utilizado