Assim, o registro audiovisual por meio do vídeo-ensaio se torna um recurso valioso, permitindo
que o ator acompanhe seu desenvolvimento e identifique as influências culturais e artísticas que
contribuem para a formação de sua identidade artística.
Augusto Boal sugere que o espectador deve assumir um papel ativo em sua própria mudança,
o que é igualmente relevante para o ator em treinamento. Ao assistir as gravações de seus
ensaios, o ator passa a ser um “espectador de sua própria atuação”, reconhecendo padrões,
falhas e habilidades que podem ser aprimoradas.Em O Teatro do Oprimido, Boal afirma: “O
Teatro do Oprimido quer que o espectador assuma o papel do protagonista, que crie e ensaie
alternativas para transformar sua realidade” (Boal, 1974:120).
Ao tornar-se espectador de si mesmo durante o processo de aprendizado e treinamento, o ator
é estimulado a desenvolver autocrítica e autonomia em suas escolhas estético-poéticas.Essa
perspectiva valoriza a independência do intérprete, permitindo-lhe assumir um papel ativo no
processo criativo, por meio da reflexão crítica sobre sua própria atuação. O vídeo-ensaio, nesse
contexto, fortalece a autonomia interpretativa ao possibilitar que o ator observe, analise e
reelabore suas escolhas cênicas, tornando-se coautor consciente de seu próprio percurso
formativo.
Sobre a arte de ensinar, Paulo Freire afirma: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Freire, 1996:21).
Ao propor uma abordagem educacional dialógica, Freire destaca a importância da análise crítica
das ações como caminho para a autonomia e a libertação do indivíduo.Nesse sentido, a
utilização do vídeo-ensaio na formação do ator oferece a possibilidade de observar suas próprias
atuações com distanciamento crítico, promovendo um intercâmbio entre a realização da cena e
sua posterior interpretação reflexiva. A análise desse material permite ao estudante
compreender, de forma crítica, suas expressões corporais, vocais e emocionais, contribuindo
para o aprimoramento técnico e o enriquecimento de seu repertório interpretativo.“A criação
da vida física equivale à metade do trabalho desenvolvido na criação de um papel, pois este
último tem, como nós, duas naturezas: uma física e outra espiritual” (Stanislavski, 1997:3).
Constantin Stanislavski destaca a importância de o ator desenvolver consciência sobre suas
ações e emoções em cena por meio da autoanálise e do domínio progressivo do processo
criativo. Ao defender que o intérprete deve ser capaz de se ver e ouvir durante a atuação, o autor
propõe que a construção da cena parta da fisicalidade, de modo que ação e emoção estejam
intrinsecamente conectadas.
Ao integrar novas abordagens a metodologias tradicionais de formação, é possível investigar
estilos interpretativos diversos que favoreçam o desenvolvimento técnico e o fortalecimento da
identidade cultural do ator.
2.1 Formação do ator - perspectivas metodológicas:
Diversos mestres da formação do ator contribuíram para a compreensão da importância da
observação prática e da construção consciente da cena. Constantin Stanislavski, por exemplo,
desenvolveu o chamado “método das ações físicas”, no qual “o ponto principal não está nelas