Introdução
O trabalho aqui apresentado sobre o uso didático de imagens e a produção de bricolagens se
baseia nas categorias analíticas e ferramentas metodológicas pautadas na (des)educação do
olhar, combinando o fazer artístico com métodos científicos, visando a produção de
conhecimentos considerando a exploração dos sentidos da visão, olfato, audição e tato,
despertando uma experiência imagética (signos semióticos), convocando os participantes a um
estado de reflexão e subversão a respeito dos enquadramentos historicamente dados nas
representações dos povos indígenas em imagens, desde os primeiros contatos com os
portugueses.
A (des)educação do olhar está implicada com a noção de poiesis, que tem a ver com o propósito
de desvelamento, de desocultamento, no sentido de propiciar a emergência de algo novo, criado
com o objetivo de colocar em evidência algum aspecto ocultado que possa ser iluminado. Com
essa perspectiva metodológica, é possível demonstrar como imagens didáticas, utilizadas como
mera ilustração, apresentam representações em que prevalece a presença de estereótipos e a
ausência do protagonismo e capacidade de pensar e produzir conhecimento por parte de povos
e sujeitos sociais historicamente marginalizados, havendo, portanto, a necessidade da realização
de exercícios de leitura dessas imagens, que levem o observador a ver além do que está
condicionado a ver, reconhecendo os signos e que cada imagem possui e jogar com eles,
refletindo sobre seus processos de construção e possibilidades de desconstrução, se dando conta
do seu papel como leitor crítico e propositivo, capaz de imaginar outras formas de ver, e, a
partir dessa experiência, também poder se tornar autor de um novo objeto visual.
Dessa forma, nos colocamos na encruzilhada entre dois campos de investigação: de um lado, o
do tratamento da temática indígena no ensino de História e do outro, o uso de experiências
artísticas sensoriais, tomadas como instrumento de pesquisa, perspectiva que contempla o
pluralismo metodológico preconizado por Kincheloe (2006), através da interação entre a
bricolagem artística e bricolagem científica, que é um procedimento alternativo no campo da
pesquisa educacional, onde a construção do conhecimento se dá a partir da formação de uma
consciência crítica, comprometida com a interpretação dos fenômenos sociais, através da escuta
de diferentes vozes, principalmente dos grupos marginalizados, neste caso os povos indígenas,
enfatizando os campos simbólicos de luta presentes nos conflitos sociais.
Nessa encruzilhada, pudemos perceber a nossa condição como um pesquisador convertido em
realizador e os estudantes e professores envolvidos na pesquisa convertidos em fontes/sujeitos,
em uma ação perturbadora e reflexiva, por rompermos, juntos, cânones da pesquisa sobre o
ensino de história e as fronteiras definidas entre o pesquisador, professor, aluno, a arte e a vida.
Como destaca Pineau (2010), que trabalha com a performance na prática pedagógica, que é um
dos recursos que utilizo nesse trabalho de pesquisa:
“a poética da performance educacional privilegia do mesmo modo as
dimensões criativas e construídas da prática pedagógica. Ela
reconhece que educadores e educandos não estão engajados na busca