Não é uma resposta, mas ainda é urgente perguntar: o que é a imagem?
Considerando uma série de fatores que fertilizam o terreno do imaginário (individual ou
coletivo) que, desde a concepção, nos tornamos portadores de imagens de várias ordens: do
código genético, imagens da cosmologia e ancestralidade, rituais e símbolos, representações
sociais etc. Imagens que são acúmulo de informações internalizadas no corpo enquanto ente
físico, sensível e espiritual. Isto porque “o corpo é lugar ocupado por imagens” (Belting, 2007,
citado por Klein, 2014: 13). É importante pontuar este caráter simbólico das imagens e da sua
formação, do qual retomaremos mais adiante.
Uma teoria da imagem deveria, segundo Klein (2014) considerar três elementos: o lugar
(demarcando um contexto) em que olhamos obriga a redefinição daquilo que seria uma
arqueologia da imagem, considerando a multiplicidade de olhares, o que evidencia a
instabilidade conceitual da imagem ao longo do tempo; a necessidade de um interrogatório
sobre “o ambiente em que estas imagens estão inseridas”. Ambientes estes, que se distanciam
e diferenciam na esfera do sagrado e do oculto, da arte, da medicina, da educação e da
comunicação, levando em consideração a ‘função’ ou papel que desempenham na sociedade
(Klein, 2014: 12); e por último, Klein citando Hans Belting vai pontuar a questão da existência
de dois polos na formação-criação das imagens: as exógenas e endógenas. Estas últimas
(endógenas) profundamente enraizadas nas questões não sensíveis, “(...) provenientes do sonho
ou do simples processo de pensar” (Klein, 2014).
É aceitável dizer, que no mundo em que vivemos, na era dos gestos e ações amplamente
vigiladas e globalmente midiatizadas, um escrutínio sobre a origem e as motivações da criação,
existência ou permanência de determinadas imagens é crucial, uma vez que, enquanto
instrumentos políticos a serviço de estruturas de poderes políticos, religiosos, imperiais e
coloniais, “As imagens apresentam-se como objectos que podemos examinar”. (Mondzain,
2009: 8).
Se colocarmos no centro da questão que o fim último destas (ainda sobre a imagem) é o homem,
nas suas transversais relações consigo mesmo enquanto sujeito que se coloca e é colocado no
mundo a partir de substratos coletivos, “a fim de compreender que nela se joga, sem dúvida, o
lugar que atribuímos ao outro” (Mondzain, 2009: 8).
A imagem, enquanto conceito e noção, foi durante séculos trabalhada no ocidente, sobretudo
pelo cristianismo, aprisionando a visibilidade das coisas e dos corpos quase de forma exclusiva,
as suas formas historicamente marcadas por infinitas contradições, permissões e proibições de
seu uso, sua edificação e destruição (Mondzain, 2009). Avanços e recuos marcados por cenários
extremamente violentos e intolerantes, levando forçadamente para outros contextos, lugares e
culturas imagens até então, sem formas potencialmente autoexplicativas sobre a ‘nossa imagem
semelhante à de Deus’.
Aqui reside o traço distintivo mais profundo sobre a história da humanidade, quando caravelas
portuguesas, espanholas e inglesas vão, de maneira acidental, encontrar outras sociedades,
culturas e imagens. A imagem da caravela, colocada na relação com o outro, seria assim, um