Barbara Gomes de Bulhões e Solange Straube Stecz
AUDIOVISUAL,
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO, PANDEMIA:
ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA WALDORF
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TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO, PANDEMIA:
ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA WALDORF
AUDIOVISUAL,
TECNOLOGÍAS DE LA INFORMACIÓN Y LA COMUNICACIÓN, PANDEMIA:
ESTUDIO DE CASO EN UNA ESCUELA WALDORF
Barbara Gomes de Bulhões
1
PPGARTES-UNESPAR
barbaragbulhoes@gmail.com
Solange Straube Stecz
2
PPGARTES-UNESPAR
labcineducacao@gmail.com
Resumo
Este artigo faz parte de um projeto de pesquisa de dissertação, atualmente em fase final, e
propõe um recorte temporal durante a pandemia da Covid-19 dentro de uma escola Waldorf na
cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. A intenção é analisar neste espaço e tempo o processo de
ensino e aprendizagem mediado pelo audiovisual e pelas tecnologias da informação e
comunicação (TIC) como recursos formativos contribuintes no processo educativo,
fortalecendo a formação crítica e emancipatória por meio da experiência estética, além de
pensar nestas linguagens como aquelas que atendem às demandas dos alunos das escolas
Waldorf. Para a construção deste estudo, será estabelecido um diálogo entre autores de
referências teóricas que debatem e apresentam questões sobre a necessária validação e
valorização da educação estética nos espaços educacionais, reconhecendo-a como dimensão
essencial para a formação integral dos sujeitos. Inés Dussel, com notas e contribuições,
contextualiza a situação da educação e dos alunos durante a pandemia. Adriana Fresquet e Alain
Bergala dedicam seu tempo à pesquisa e à reflexão sobre cinema e educação.
1
Pedagoga, dramaturga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Artes UNESPAR.
Brasil
2
Doutora em Educação pela UFSCAR. Professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes da
Universidade Estadual do Paraná. Brasil.
Barbara Gomes de Bulhões e Solange Straube Stecz
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Palavras-chave: Audiovisual, pedagogia waldorfiana, tecnologias digitais, pandemia.
Resumen
El presente artículo integra una investigación de disertación en desarrollo actualmente en etapa
de finalización y propone un recorte en el periodo de pandemia de COVID-19 adentro de una
escuela Waldorf en la ciudad de Curitiba (Para-Brasil) con la intención de analizar en ese
espacio/tiempo el proceso de enseñanza y aprendizaje intermediado por el método audiovisual
y las tecnologías de la información y comunicación como recursos formativos de contribución
en el proceso de enseñanza y aprendizaje poniendo en valor la formación crítica y emancipadora
por medio de la experiencia estética entendiendo que estos lenguajes atienden a las demandas
de los alumnos de las escuelas waldorfianas. Para la construcción de este estudio propositivo
será establecido un diálogo entre autores de referencias teóricas que debaten y exponen
cuestiones sobre la validación y valorización necesarias de la educación estética en los espacios
educativos reconociendola como dimensión esencial para la formación integral de sujetos. Inés
Dussel con apuntes y contribuciones contextualiza el cuadro de la educación y de los alumnos
durante la pandemia. Adriana Fresquet y Alain Bergala dedican su tiempo a pesquisar y
reflexionar el cine y la educación.
Palabras claves: Audiovisual, pedagogía, waldorfianas, tecnologíasdigitales, pandemia.
Abstract
This article aims to study definitions of the term belonging in relation to what we understand
as community. Developed as part of the final project for the elective course “The Political
Dimension of Collaboration: Revitalizing the Common”, offered by the Graduate Program in
Arts (PPGARTES) at the Paraná State University (Unespar) Curitiba Campus II, this study is
dedicated to exploring how the sense of belonging to something dialogues with one’s presence
in a community, identifying the role that an individual’s identity and uniqueness play in this
construction between the self and others.
To this end, the work references authors who study belonging and the notion of the common,
bringing reflections into dialogue with a case study that examines the Encontro dos Gigantes
de Palmas, a festivity that is part of the Festa de Taquaruçu, held in Palmas, Tocantins, Brazil.
This intersection of concepts may help to understand how an event created to affirm bonds of
belonging among members of a community relates to the theoretical ideas discussed.
Keywords: Belonging; Community; Identity; Uniqueness; Rootedness.
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Introdução
Neste artigo serão apresentados dados preliminares do estudo de caso, posto que a pesquisa se
encontra em fase de finalização a ser concluída em formato de dissertação de mestrado.
Destacam-se alguns dos elementos mais relevantes que contextualizam a investigação sobre o
Audiovisual, Pandemia, Tecnologias da Informação e Comunicação: estudo de caso em uma
escola Waldorf. Para ser possível um aprofundamento maior, o recorte foi feito nos anos de
2020 e alguns meses de 2021, cujos anos foram aqueles aos quais aconteceram as aulas
emergenciais remotas durante a crise sanitária da Covid-19. Na sequência, a partir e com base
nessa contextualização, levantam-se algumas questões que problematizam a pesquisa e que
darão continuidade na reflexão do tema, baseado em autores que dialogam com as temáticas da
pedagogia Waldorf, sobre a educação na pandemia, e mesmo, sobre a experiência estética
proposta nessa pedagogia.
“(...) não podemos pensar apenas de modo abstrato. Devemos ensinar arte no
desenho e assim por diante, devemos ensinar o anímico na aritmética e
ensinar de modo artístico o convencional na leitura e na escrita; devemos
permear todo o ensino com um elemento artístico. Portanto, desde o início
teremos de atribuir grande valor ao cultivo do lado artístico na criança. O
elemento artístico atua de modo muito especial sobre a natureza volitiva do
ser humano. Por meio dele penetramos em algo que está relacionado com o
homem todo, enquanto o que se relaciona com o convencional refere-se
apenas ao homem-cabeça”. Steiner, 1947:05.
Até 2019, como professora na instituição, a interação com os alunos foi presencial. Assim como
os demais docentes, práticas diárias voltadas ao conteúdo programático - tradicionalmente
desenvolvidas de cunho cognitivo-lógico-racional - eram ampliadas com as práticas artísticas.
A condução de exercícios práticos de teatro, expressão corporal, dança popular, ritmos
brasileiros, aconteceram com o suporte e a promoção das relações interpessoais entre alunos,
professora e vice-versa.
A pedagogia Waldorf, de acordo com seus princípios, pouco usa os meios virtuais para fins
escolares, aumentando sua utilização gradativamente no Ensino Fundamental II. O processo de
adaptação e utilização aos meios virtuais no contexto das aulas remotas, necessárias para conter
o avanço do vírus da Covid-19, foi questionado, discutido e estudado entre professores,
famílias, médicos, secretaria de educação e de saúde, no cuidado para que a base da pedagogia
Waldorf fosse mantida mesmo em meio a situação pandêmica mundial. O pilar da pedagogia e
a filosofia antroposófica defende métodos que despertem o desenvolvimento completo e
integral do aluno, estimulando a sociabilidade, motricidade, cognição, comunicação e
expressão emocional, destituído dos meios virtuais e das telas. A inserção, necessária e vital na
pandemia, dessas ferramentas praticamente causou um déficit nos pontos acima referidos. De
qualquer maneira as aulas emergenciais remotas iniciaram entre tentativas, erros e acertos.
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No currículo steineriano, as disciplinas são divididas em dois segmentos: O primeiro abrange a
língua específica de cada país, literatura, matemática, ciências, geografia, história, física,
química, biologia, educação física. E o segundo segmento incluindo música, teatro, artes
visuais, desenho, dança, euritmia
3
trabalhos manuais, jardinagem, marcenaria, ginástica
Bothmer
4
, que acompanham toda a vida escolar do aluno, com carga horária próxima às das
aulas de conhecimento linguístico e lógico-matemático (primeiro segmento).
No fechamento das escolas, determinado pelos órgãos de saúde federais brasileiros para conter
o contágio da Covid-19, pensar o funcionamento das disciplinas artísticas, assim como
educação física, marcenaria e jardinagem na Escola Waldorf, foi mais complexo do que aquelas
de conhecimento teóricos, cujo cuidado foi mais enfático em relação ao rearrumar a aula para
que os estudantes passassem o menor tempo possível nas telas e o quanto fosse possível fazendo
atividades da escola de maneira individual, em suas casas, com movimento corporal, na
natureza, com arte, pois tem-se em vista a necessidade de crianças e jovens estarem nesses
meios, com o cuidado necessário àquela época e recebendo o conteúdo escolar. Com a
necessidade de isolamento o uso de ferramentas audiovisuais se tornou premente, e foi a solução
viável e possível para garantir que os alunos tivessem acesso ao aprendizado e manter o contato
com colegas e professores. Foram incorporados elementos para além daqueles nomeados
audiovisuais, como fantoches de sombras, lanterna mágica e documentários curtos, detalhado
nas entrevistas dos professores. Para a elaboração deste artigo, outro braço norteador é Inés
Dussel, quando reflete.
“gostaria de argumentar que a pandemia, ao nos obrigar a tentar outras
opções que não as usuais, tornou visíveis não apenas as marcas da
desigualdade e da precária ligação à escola de alguns setores da população,
mas também trouxe à luz outras condições que permitem questionar a inércia
com que veio e que convidam a experimentar novas formas”.
Dussel, 2021:128
Pedagogias
O intuito primeiro é fomentar possíveis diálogos entre autores dentro da academia de arte, ou
de pedagogia; assim como em escola de pedagogia Waldorf, e outras; em instituições privadas
ou públicas, como direito da criança e do adolescente do século XXI, e não como privilégio de
uma minoria. Pois, segundo a Sociedade Antroposófica Brasileira (SAB), as escolas Waldorf
formam uma rede independente de educação que cresce significativamente no mundo, sendo
apontada pela UNESCO, em 1994, como a pedagogia capaz de responder aos desafios
educacionais, principalmente aqueles ligados às diferenças culturais e conflitos sociais.
3
Euritmia: Estilo de dança criado em 1912. Faz parte do quadro de disciplinas de escolas de pedagogia Waldorf.
4
Ginástica Bothmer: criada em 1922 por Graf Fritz Von Bothmer, então professor de Educação Física na primeira
escola Waldorf.
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Temos ainda que pensar a pedagogia, a relação com a educação estética, e sua ramificação para
a sociedade, que está saturada de audiovisual e as tecnologias da informação e comunicação. E,
a partir daí, entender essa dinâmica na e para educação. Debater o tema entre professores,
pensadores, pesquisadores e educadores sobre essas ferramentas no Ensino Fundamental
Waldorf no Brasil.
A pesquisa nasceu, então, na tentativa de compreender como se desencadeou a relação de
professores e alunos com e através do audiovisual e as tecnologias da informação e
comunicação, no período de pandemia na escola Waldorf Turmalina. Assim como, sua prática
na base da pirâmide da vida escolar do ser humano, decodificando os meios enquanto
conhecimento artístico, experiência estética virtual e ferramenta pedagógica.
A investigação justifica-se, também, pelo desenvolvimento da minha trajetória como
pesquisadora, ao desenvolver habilidade no discurso acadêmico, e, então, contribuir nas
pesquisas em andamento dentro da academia, seja sobre as artes, seja no diálogo sobre as atuais
estruturas basilares da educação no Brasil. Esta dissertação é necessária dada a escassez de
bibliografia (percebida no momento da elaboração do pré-projeto) que aborde o audiovisual e
as tecnologias da informação e comunicação como possibilidade de ferramenta no ensino e
aprendizagem, ou mesmo vislumbrar a inserção destes em processos artísticos, no contexto do
ensino básico na escola de Pedagogia Waldorf. Além da possibilidade em ser tomado como
trabalho a ser lido por alunos, alunas e pesquisadores; para formar repertório das dissertações
nessa área e compor o acervo bibliotecário da instituição, ou de instituições afins; pela
contribuição à ampliação do conhecimento nesta área; para consolidar e mesmo ampliar a
demanda de suporte institucional, como bolsas e outros custeios públicos e/ou privados.
Como objetivo geral serão analisados os corpos, espaços, afetos, o audiovisual, as tecnologias
da informação e comunicação durante as aulas remotas, no período de pandemia na escola de
pedagogia Waldorf.
os objetivos específicos consistem em descrever a adaptação no processo de ensino e
aprendizagem através do audiovisual e as tecnologias da informação e comunicação (TIC)
durante as aulas remotas; pesquisar a relação interdisciplinar do audiovisual e as TIC no
processo educacional; refletir sobre esses meios como oportunidade ao discente de apreender
com e através de um novo canal da experiência estética. E, por fim, perceber se tais linguagens
atendem às demandas dos alunos da escola do presente século.
A metodologia adotada, inicialmente, será qualitativa e de caráter exploratório, seguindo as
fases propostas por Gil (2018: 87): identificação das fontes; localização das fontes e obtenção
do material; tratamento dos dados; confecção das fichas; construção lógica e redação do
trabalho. Será realizado um levantamento bibliográfico sobre a pedagogia Waldorf na
pandemia, com ênfase na vivência com o audiovisual e as tecnologias da informação e
comunicação, incluindo livros, artigos científicos, dissertações e teses. O passo seguinte será
preparar o roteiro de entrevistas sobre o período pandêmico e sua repercussão nos anos que
seguiram, para que sejam aplicados entre docentes da escola Waldorf Turmalina. Serão
realizadas entrevistas semiestruturadas avaliando de que maneira os docentes vivenciaram as
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práticas pedagógicas mediadas pelo audiovisual e tecnologias da comunicação e informação e,
a partir daí, averiguar sua prática nas diversas disciplinas.
Analisar, ainda, como e em que medida a Escola Waldorf Turmalina lidou com o ensino e
aprendizagem e seus princípios e métodos, durante a pandemia; o que foi mantido ou alterado
na resposta da escola à situação pandêmica; os modos da escola gerenciar e atender à
participação e demandas dos pais; como os professores percebem o uso do audiovisual e das
tecnologias durante a pandemia em uma escola Waldorf? Se atualmente consequências
positivas, ou negativas, no uso dessas ferramentas nos anos de 2020 e 2021? Explana-se ainda
como os pais da escola, professores e alunos são recebidos hoje em dia, se virtual ou
presencialmente, como são as reuniões gerais e especificas de cada turma, como foi o início do
trabalho com o audiovisual e as tecnologias da informação e comunicação, e seus desafios.
Entender se houve um retorno e encerramento ao audiovisual e às novas tecnologias após a
pandemia.
Por meio da análise de dados parciais, será elaborado o desenvolvimento e considerações neste
artigo.
Rudolf Steiner: desenvolvimento pedagógico
O idealizador da pedagogia Waldorf, o austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo,
educador e esotérico, estudava e pesquisava a agricultura, arquitetura, artes, literatura,
matemática, medicina, terapias, farmacologia, apicultura, filosofia, ciência, religião,
organização social Ele era escritor e conferencista, influenciado pelo poeta, dramaturgo e
cientista Johann Wolfgang von Goethe. Magali Mourai (2019) em seu artigo A ciência de
Goethe: em busca da imagem do vivente destaca a abordagem dele sobre a natureza como uma
totalidade orgânica, viva e com alma, divergindo do pensamento científico de sua época que
difundia a ideia da vida exclusivamente como matéria em movimento.
Indo ao encontro do pensamento de Goethe, Steiner aproxima a arte da ciência a fim de traçar
um caminho para o desenvolvimento integral do ser humano: habilidades sociais, emocionais,
cognitivas, corporais e espirituais. Assim, nasce uma pedagogia que preconiza não somente a
aquisição de conhecimento linguístico e lógico-matemático, mas seu entrelaçamento íntimo
com a arte. Ele percebeu que essa força potencial da criatividade, a partir da arte, poderia estar
a serviço do desenvolvimento da criança e do jovem., propiciando o despertar interior do aluno
para um pensamento flexível, autêntico, global, com atuação social, ética, responsável,
comprometida e com empatia. Assim, em 1919 Steiner funda a primeira escola Waldorf, para
que os filhos de trabalhadores de uma fábrica pudessem estudar.
O idealizador da pedagogia tinha o entendimento do ser humano a partir de uma cosmovisão,
onde cognição, emoção e ação precisavam ser equanimemente contempladas. Romanelly
(2000) enfatiza que essa teoria cognitiva, ao ser transferida para a prática, restabelece o vínculo
da arte com o conhecimento, propondo uma metodologia de ensino.
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Essa necessidade surgiu fruto da pós Primeira Guerra Mundial, quando a Europa ficou destruída
pelas batalhas. A partir desse contexto nasceu a ideia de uma sociedade mais humana, e a
antroposofia era sinônimo desse futuro reconstruído e possível.
Hoje a pedagogia Waldorf encontra-se nos cinco continentes, em aproximadamente oitenta
países, cujas filiadas à Federação das Escolas Waldorf somam 3.198 instituições de ensino
distribuídas entre o Ensino Infantil, Fundamental e Médio.
Apesar de ter sido fundada na Europa, hoje a escola existe nos Estados Unidos, Rússia, América
do Sul, Israel, países democráticos da Europa Oriental, Nepal, Índia, Japão, China, Quênia,
Egito, entre outras. A pedagogia adaptou-se às variadas culturas, porém, fundamentada nos
princípios da Antroposofia e Pedagogia Waldorf.
Pedagogia Waldorf no Brasil
Em 2024 a Pedagogia Waldorf completou cento e cinco anos, e atualmente encontra-se nos
cinco continentes do planeta Terra. Inaugurou sua primeira escola em solo brasileiro em 1956,
e, por volta da década de 80 havia, aproximadamente, trinta escolas distribuídas em vários
outros estados do país.
“Considerando a realidade brasileira como um todo, as escolas Waldorf no
Brasil cresceram cerca de 200% nos últimos dez anos, conforme os dados da
FEWB em 2020. Existem 78 escolas filiadas, destas, 14 contemplam toda a
educação básica (Educação Infantil ao Ensino Médio), 16 escolas vão até o
Fundamental II e 48 até o Fundamental I, além de 200 Jardins de Infância,
sem contar com as escolas que estão em processo de filiação”.
Amaral etal, 2021:93642.
O passo mais recente na biografia da educação Waldorf em solo brasileiro foi a faculdade com
graduação específica dessa pedagogia:
“A Faculdade Rudolf Steiner é uma entidade sem fins lucrativos, beneficente
de assistência social, portadora do CEBAS Certificação de Entidades
Beneficentes de Assistência Social na Área de Educação, regulamentada pela
lei nº 12.101/2009, decreto 7.237/2010. Mantém, assim, compromisso
irrestrito com a concessão de bolsas integrais e parciais para alunos de
Graduação, na proporção mínima de uma bolsa integral para cada nove
alunos matriculados”.
https://frs.edu.br/cursos/licenciatura-em-pedagogia/Acessado em 22/03/2025
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Até o ano de 2024, foi possível encontrar pós-graduação lacto sensu em: Artes na Pedagogia
Waldorf; Facilitação de Processos à luz da prática social reflexiva; Educação Musical Waldorf:
Antropomúsica. Além de cursos de extensão: Aulas de Guarani história, mitos e linguagem;
Epistemologias Negras na Educação: contribuições de intelectuais negras brasileiras; Iniciação
ao Teatro Pedagógico: oficina de montagem; Educação Infantil: Diálogos entre ‘Tradições
Waldorf’ e Culturas Tradicionais, entre outros.
Desde a década de 80, os estudos e pesquisas sobre aquilo que diz respeito a brasilidade no
currículo da pedagogia Waldorf e sua preservação, compreensão, vivência, até a instrução a
seus alunos, vem acontecendo por alguns grupos de professores que iniciaram o fortalecimento
destes. No país já existem alguns movimentos e grupos de extensão nacional para esse fim, que
estão em constante diálogo e adequação do currículo Waldorf à história e cultura dos povos
originários e afro-diaspóricos.
“De um lado, o ideal atua como fonte inspiradora e como fundamento na
compreensão do devir humano. Por outro lado, as condições do real envolvem
o campo prático que inclui a individualidade da pessoa educadora, as
características únicas da classe que se ensina composta pelas
individualidades dos alunos, o momento histórico, a localização geográfica e
os aspectos intrínsecos à cultura e à sociedade em que educador e educandos
se encontram”.
Junior et al, 2018:864
É tempo de um em viés razoável, extenso e dedicado na contemporaneidade do país, em diálogo
com a educação proposta e as condições reais em que está a escola, geograficamente,
socialmente, culturalmente, quais famílias a ocuparem, qual a relação da professora/o com as
disciplinas para além da sala de aula, como experiência de vida, o momento histórico da região.
Diante deste quadro, o “como” dialoga construtivamente com os alicerces do que Steiner
concebeu no século passado e a sociedade atual, sem perder o humanismo, relação com a
natureza, ensino de artes e a religiosidade. Pois, traduzir para expandir valorizando e
potencializando o país, a partir de uma sociedade mais justa e equânime. Refletir, inclusive,
sobre quais leis para a educação estão vigentes no país, para que pedagogia e judiciário andem
em comum acordo e sob as Leis específicas de cada região. No Brasil, pelo menos duas leis
precisam ser estudadas e efetivadas nas escolas Waldorf:
Assim, exemplificando algumas das diversas pessoas dentro da antroposofia que se debruçam
sobre a reflexão da sociedade atual e crianças e jovens.
Aqui no Brasil há, ainda, o “Projeto de fomento à criação de Escolas Waldorf públicas”, do
Instituto Ruth Salles. Este visa estimular e orientar as iniciativas das escolas Waldorf para que
essa pedagogia aconteça em maior expressividade de forma gratuita e democrática. Esse
movimento conta com experiências bem-sucedidas no âmbito da rede pública. Conforme o
Instituto onze escolas Waldorf públicas (ou escolas sociais) no país: seis escolas associativas
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conveniadas, idealizadas e fundadas por uma associação, onde uma das pessoas é o dono do
espaço físico e, com o grupo estabelecem convênio com a prefeitura. E cinco escolas públicas,
fundadas a partir do poder público da cidade, conjuntamente a professores e pais, ou dos
próprios gestores públicos.
Audiovisual e tecnologias da informação e comunicação na educação
Na escrita da dissertação, quando finalizada, serão descritos e expostos documentos de órgãos
públicos vinculados à educação, assim como gráficos e dados que amparam a avaliação feita
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) sobre os
resultados das políticas educacionais e considerações sobre o audiovisual e as tecnologias da
informação e comunicação e de que maneira são propostas essas disciplinas. Neste artigo,
porém, nos atentarmos aos autores e suas teorias propositivas e analíticas sobre o tema da
pandemia, meios virtuais e Pedagogia Waldorf. No entanto, esse artigo é um recorte de tudo
que foi levantado sobre as questões pertinentes.
Segundo a professora e Dra. Solange Straube Stecz e o professor Dr. Marcos Henrique Camargo
(2019: 95), eles entendem como mais abrangente o termo “audiovisual”, porque inclui tanto
o cinema, como a televisão, a videografia, a fonografia, tablets, celulares, videogames etc.
Tendo em vista a explanação dos professores sobre o significado da palavra “audiovisual” e a
questão da educação como fios condutores desta investigação, é necessário, então, voltar aos
anos da pandemia da Covid-19, onde este esteve indissociavelmente ligado a todas as
disciplinas das escolas e, também, na Turmalina, alinhando-se ao comportamento de alunos
waldorfs contemporâneos que fazem uso da tecnologia e aparelhos de comunicação
eletrônica em suas residências, inclusive antes mesmo da pandemia de 2019, como descreve
Jonas Bach (2016, p.41) em seu livro sobre “A pesquisa JIM (Juventude, Informação e
Multimídia) (...) realizada no ano de 2009 pela Federação de Pesquisa Pedagógica-Midiática
do Sudoeste da Alemanha (...). A maioria dos alunos Waldorf (81,1%) tinha acesso no seu
quarto, número consideravelmente superior em relação aos alunos de escolas convencionais
(54,0%)”.
Aparelhos que os alunos possuem para uso pessoal (%)
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Amostragem de alunos Waldorf = 827. Amostragem da pesquisa JIM = 1.200.
A partir do quadro acima, é possível entender que as ferramentas virtuais já estão sendo usadas
de forma diária, e muitas das vezes de maneira perigosa e desconstrutiva por crianças e
adolescentes. Contudo, estes temas não serão abrangidos no artigo, pois é outra ampla discussão
e debate entre agentes da saúde e educação. Talvez, com educação escolar direcionada, quanto
ao uso dos meios virtuais, haverá a possibilidade de interagir com estes de maneira saudável e
preventiva por parte dos jovens e adultos.
O ambiente escolar brasileiro ainda tem um lugar pouco explorado por conta da falta de
investimento na alfabetização digital de professores, e da pouca, ou total, falta de infraestrutura
nas escolas. Contudo, é necessário a discussão e explanação sobre crianças e jovens do século
XXI e seu entorno sociotécnico. Barcelos e Coutinho (2010) mencionam que através do
desenvolvimento criativo e de construção com o audiovisual, abre-se, também, um espaço
formativo onde professores podem explorar a linguagem cinematográfica.
As tecnologias da informação e comunicação incluem àquelas que intermediam a comunicação,
otimizadas pela internet e aceleradas em seu uso pela quarentena na pandemia da Covid-19.
Elas cresceram e continuam crescendo exponencialmente, tanto para o trabalho, quanto para o
lazer e estudos, e atualmente fazem parte do dia a dia de crianças e jovens transpassando as
esferas da educação e do social. Entre alguns exemplos das tecnologias da informação e
comunicação podemos citar o celular, webcam, internet, notebook, computador, entre outros.
“Considerar o cinema como um meio significa que a atividade de contar histórias com
imagens, sons e movimentos pode atuar no âmbito da consciência do sujeito e no âmbito
sociopolítico-cultural, configurando-se num formidável instrumento de intervenção, de
pesquisa, de comunicação, de educação e de fruição. No entanto, considerar o cinema
como um meio não significa reduzir seu potencial de objeto sociocultural a uma
ferramenta didático-pedagógica destituída de significação social”.
Fantinz, 2007:01.
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Nas últimas décadas, ganhando cada vez mais espaço na cultura contemporânea, o audiovisual
e as TIC estão presentes desde a consulta médica, ambiente escolar ou religioso, passando por
conferências internacionais e até brinquedos de criança. Em se tratando das tecnologias na
educação, Adriana Fresquet reflete que com o cinema como parceiro, a educação se inspira,
se sacode, provoca práticas pedagógicas esquecidas da magia que significa aprender, quando
o ‘faz de conta’ e a imaginação ocupam lugar privilegiado na produção sensível e intelectual
do conhecimento”. (2015). A partir daí, pensar possibilidades de inclusão do audiovisual e das
TIC dentro do ambiente waldorfiano não é senão possibilidade positiva frente a tantas outras
formas e maneiras de educação estética.
No entanto, em 2020, com a pandemia da Covid-19, as formas de estudos, serviços e
relacionamento precisaram se adaptar e foram mediados pelas redes de banda larga. A
adaptação emergencial na escola foi para além da questão meramente do conteúdo
programático, pois, aconteceu desde a estrutura das famílias para aulas em casa de maneira
virtual, à adaptação dos alunos e professores nesses meios de interação, o planejamento de aula,
o material didático, a avaliação do conteúdo, entre outros aspectos que não serão abordados
nesse recorte, como, por exemplo, as questões psicossociais de alunos e professores, entre
outros que vão para o viés da saúde.
Na Pedagogia Waldorf é usualmente contido o uso dos meios virtuais para fins escolares, e
pouco usado até o Ensino Fundamental II. O processo de adaptação e utilização desse meio no
contexto das aulas remotas, necessárias para conter o avanço do vírus da Covid-19, e seguir da
melhor maneira possível a vida escolar de crianças e adolescentes, foi questionado, discutido e
estudado entre professores, famílias, médicos, secretaria de educação e de saúde, para que, na
medida do possível, a base da pedagogia Waldorf fosse mantida em meio a situação pandêmica
mundial. O pilar da pedagogia é a filosofia antroposófica que defende métodos que despertem
o desenvolvimento completo e integral do aluno, estimulando a sociabilidade, motricidade,
cognição, comunicação e expressão emocional, porém, com os meios virtuais e as telas nas
escolas houve um déficit nos pontos acima referidos. E, assim, as aulas emergenciais remotas
iniciaram entre tentativas, erros e acertos.
No fechamento das escolas, determinado pelos órgãos de saúde federais brasileiros para conter
o contágio da Covid-19, pensar o funcionamento das disciplinas artísticas, educação física,
marcenaria e jardinagem na Escola Waldorf, foi mais complexo do que aquelas de
conhecimento teóricos, cujo cuidado foi maior na rearrumação e explicação aos estudantes
sobre passar o menor tempo possível nas telas e o quanto fosse possível fazendo atividades da
escola de maneira individual, porém, de movimento corporal e na natureza, tendo em vista a
necessidade de crianças e jovens estarem nesses meios, com o cuidado necessário àquela época
e recebendo o conteúdo escolar.
Escola Waldorf Turmalina
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Até 2019, como professora na instituição, a autora da presente pesquisa, junto aos demais
docentes, interagiu com os alunos de maneira presencial ao lecionar em sala de aula,
amplificando as práticas artísticas no diálogo com o conteúdo programático tradicionalmente
desenvolvido e cunho cognitivo-lógico-racional. Conduziu exercícios práticos de teatro,
expressão corporal, dança popular, música, com o suporte da, e a partir de, promoção das
relações interpessoais entre alunos e professores e vice-versa.
A escola que deu origem ao presente estudo de caso é uma instituição privada, sem fins
lucrativos, dependendo exclusivamente da contribuição monetária da mensalidade paga pelas
famílias e de doações. Ela funciona como instituição associativa, pois não proprietários e
sua organização, gestão e decisões envolvem professores, pais e associados, de acordo com três
instâncias eleitas de maneira sociocrática onde todos os representantes eleitos tenham passado
por consulta e sido aprovados pelos demais membros.
Por volta do ou ano (a depender do professor) há a inclusão do audiovisual que, de maneira
interdisciplinar, se soma ao processo de ensino e aprendizagem. Segundo CAMARGO (2019:
2), as mídias contemporâneas têm revelado seu caráter mestiço, cuja capacidade de
comunicar simultaneamente vários tipos de linguagens produz (...) imagens, sons, movimentos
e tatilidade (...).”
Para tanto, o educador precisa ser movido a despertar e refinar seu senso estético através de
estudos e cursos específicos. No Brasil, para ser um pedagogo Waldorf, é necessário graduar-
se na Faculdade Rudolf Steiner (em pedagogia Waldorf) ou fazer especialização nesta área,
onde o professor cursa disciplinas teóricas, artísticas, trabalhos manuais, ampliando suas
competências estéticas, sensíveis, lógicas e socioemocionais, capacitando-se, assim, para olhar
seu futuro aluno a partir da cosmovisão defendida por Rudolf Steiner. Para tanto, a Sociedade
Antroposófica no Brasil (SAB) é uma organização que se dedica a apoiar profissionais que
estudam, trabalham e pesquisam a antroposofia.
A partir desse viés a pedagogia surge sob outro tripé: o das faculdades do pensar, sentir, querer
(ou agir), dando igual peso e importância a esses três elementos elencados no processo ensino
e aprendizagem. Por esse prisma é que a arte permeia as disciplinas, desde o ensino infantil e
fundamental, até o médio e a graduação em pedagogia Waldorf. Esses princípios respaldam as
palavras da professora Solange e do professor Marcos:
“Até pouco tempo, considerar a estética (e as Artes) como conhecimento
legítimo era visto como um nonsense típico de gurus da New Age dos anos
1960. Representantes das chamadas “ciências duras”, cuja rigidez dos
conceitos garantiam sua universalidade, olhavam para a estética com certa
condescendência, atribuindo-lhe um humilde cubículo no edifício do
conhecimento” (...)
Camargo et al, 2019:13.
Barbara Gomes de Bulhões e Solange Straube Stecz
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Para além da grade horária em que o ensino da arte propriamente tem considerável aumento de
tempo em comparação com outras pedagogias, as artes, nessa proposta pedagógica, alcançam
a interdisciplinaridade, pois, estão presentes em áreas como matemática, línguas, entre outras
disciplinas que requerem do estudante atividade cognitiva lógica racional. “As matérias
artísticas e artesanais não constituem, na pedagogia Waldorf, apenas um complemento
estetizante; trata-se de disciplinas que recebem a mesma atenção que as demais e são
consideradas de igual importância para a formação do jovem” (LANZ, 2013, p.135)
Nesse sentido, a arte entra como uma forte aliada, auxiliando o aluno no desenvolvimento da
sensibilidade criativa, no desenvolvimento motor e na compreensão de conteúdos numéricos e
verbais:
“A cognição estética é a forma de conhecimento mais apta a realizar o
trânsito entre as formas simbólicas da cultura (às quais pertencem a
Gramática e a Matemática) e as formas assimétricas do real, permitindo ao
pesquisador experimentar as relações entre a ordem e a desordem do
mundo”.
Camargo, 2013:60.
A arte, enriquece e potencializa o educando como ser crítico e criativo, e, também, faz com que
suas competências sejam evidenciadas a partir de si mesmo para além dos muros da escola. Ela
transcende os diferentes processos de aquisição de conhecimento do aluno, e soma-se ao que
ele dispõe em prol de alavancar seus estudos, inclusive em matemática, português, línguas etc.
Pois, de acordo com CAMARGO (2022), para expandir a capacidade de compreensão da
realidade do mundo é necessário integrar os campos estético e lógico do conhecimento humano,
pois estes estão intrinsecamente interligados.
Nesse estudo é possível perceber, ao lecionar na escola Waldorf Turmalina, que o dia a dia
letivo permitia aos alunos conviverem com e através da arte em todas as disciplinas, porque,
desde seu início houve o convite à prática da aquisição de conhecimento entrelaçado às artes,
abrangendo e abraçando o que o aluno traz como indivíduo, potencializando o processo de
ensino e aprendizagem.
A Escola Waldorf aqui pesquisada funciona hoje a partir da estrutura fundante dessa pedagogia,
no início do século XX, na Alemanha, na qual trabalha as disciplinas artísticas como
conhecimento autônomo, de aperfeiçoamento e educação dos órgãos dos sentidos,
complementar ao conhecimento lógico-racional. Porém, a partir de 2022 o audiovisual e as
tecnologias da informação e comunicação - seja como conhecimento estético, seja ferramenta
no ensino-aprendizagem - voltaram a ser utilizadas de maneira pontual no dia a dia de
professores e alunos. A tecnologia é utilizada como expressão artística em filmes selecionados
e apresentados aos alunos:
“A cultura midiática e as linguagens artísticas, ao contrário do que propõe a
educação tradicional, não segmentam aspectos racionais e emocionais. Não
Barbara Gomes de Bulhões e Solange Straube Stecz
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separam o sujeito sensível do sujeito inteligível em suas narrativas,
concebendo o conhecimento como um processo em que o sentir e o simbolizar
se articulam e se completam na criação ou poiesis dos imaginários. A
experiência estética é, então, o momento em que nossa cotidianidade é posta
em suspenso e passamos a ter uma percepção mais ampla da realidade”.
Pires, 2009: 10
Considerações
É sabido que para um país viver sua democracia de maneira plena e com igualdade para todos
os seus cidadãos, é necessário, antes, pessoas bem formadas com capacidade crítica sobre a
vida política e sociedade, comprometidos com princípios éticos, justiça climática e da natureza,
enfim, distinguir o que de fato é humanamente, ecologicamente, politicamente correto. E antes,
ainda, do eleitor cidadão, é necessário que crianças e jovens sejam conscientes, e é somente
pela educação de qualidade que o pilar da sociedade é firmado.
Com igual peso, é necessário que os pilares da saúde, alimentação, moradia, trabalho, sejam
igualmente atendidos e disponibilizados para as pessoas, indistintamente. Porém, o recorte
desta dissertação é sobre a educação, não sendo possível um estudo detalhado sobre os pilares
de uma sociedade que almeja um mundo menos pautado em valores materiais, e mais sobre a
construção de um mundo melhor e justo socialmente.
E é com esse mapeamento e a necessidade urgente de melhoria social, política e econômica
que a educação de qualidade, e a ideia de fraternidade social no contexto da saúde econômica
seria uma alternativa para um mundo melhor. Onde crianças seriam formadas em escolas
Waldorf públicas, com ensino de qualidade, liberdade de pensamento, pensamento crítico e
fortalecimento da brasilidade, criatividade, empatia, confiança, com o sentido de comunidade,
do compartilhar e do dividir, com consciência social e ambiental.
A possibilidade do audiovisual e as tecnologias da informação e comunicação estarem inseridas
na Escola Waldorf Turmalina, é pensar no longo prazo. No entanto - seja como ferramenta ou
experiência estética virtual - se essas novas possibilidades puderem contribuir positivamente
no processo de ensino e aprendizagem; e se, a partir do diálogo entre autores, é possível
vislumbrar possibilidades de melhoria na educação, é chegado o momento de recolher dados,
depoimentos e analisar a viabilidade. Faz-se necessária a discussão e explanação sobre crianças
e jovens do século XXI e seu entorno sociotécnico.
Isso será a soma do cuidado com a criança e adolescente, futuros cidadãos adultos ativos
politicamente no Brasil, educação de qualidade, fortalecimento da cultura brasileira, indígena
e afro-diaspórica, assim como o dever de praticar as Lei 14.533, de 2023, onde institui a
Política Nacional de Educação Digital, e a Lei 13.006, que obriga a exibição de filmes de
produção de cinema brasileiro nas escolas de educação básica.
Barbara Gomes de Bulhões e Solange Straube Stecz
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Publicação inicial na internet: 27.09.2009 Revisão atual (6): 19.04.2010 Escola Nova,
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CAMARGO, Marcos H. O que a Estética tem a dizer à Ciência | Marcos Henrique
Camargo - Academia.edu
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Barbara Gomes de Bulhões
barbaragbulhoes@gmail.com
O currículo deste autor se encontra no rodapé da primeira página de seu artigo no dossier.
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Solange S.Stecz
solange.stecz@gmail.com
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