Se tomarmos como base as experiências nas salas de aula de estágio da graduação em História
da Universidade Federal de Goiás, observaremos que há uma referência constante à história
latino-americana no ensino básico, especialmente dos períodos colonial e do século XIX. São
referências que apontam para a particularidade brasileira em relação ao resto dos países
vizinhos, uma particularidade baseada na cultura e especialmente na história política. Ao
mesmo tempo, há um reconhecimento de culpa por parte de estudantes e professores brasileiros
sobre a sua ignorância sobre muitas questões latino-americanas, limitações justificadas pelas
barreiras linguísticas ou mesmo pela visão eurocêntrica dos estudos empreendidos em seus
processos de formação.
Todavia, a suposta falta de conhecimento de professores em formação e estudantes da educação
básica brasileiros sobre a história da América Latina parece um tanto diminuída, se comparada
com o desconhecimento e pouco espaço dado ao estudo dos países da América Latina em
relação ao Brasil em documentos curriculares e em materiais instrucionais como livros
didáticos. Sendo o Brasil geográfica, política e economicamente significativo na América do
Sul, o resto da América Latina vive de costas para o vizinho, sofrendo da mesma doença do
Euro/primeiromundismo. Foram considerações que resultaram das experiências vivenciadas
por meio do encontro dos autores, uma professora brasileira e um historiador venezuelano que,
juntos, ao observarem conteúdos de história da América oferecidos a brasileiros, decidiram
realizar uma reflexão que diagnosticasse a presença/ausência do Brasil e seus países vizinhos
em estudos oferecidos para a educação básica em espaços educacionais ibero-americanos.
Nos estudos brasileiros, a história latino-americana tem sido utilizada como um espelho no qual
políticos e historiadores brasileiros do século XIX e também do presente têm destacado
aspectos que permitam aproximar e diferenciar processos da América hispânica e da história
brasileira, evidenciando pontos de convergência histórica e diferenças. Quais perspectivas
influenciam tais estudos? A primeira: as diferenças entre a colonização espanhola e portuguesa,
resultando na ideia de atraso premeditado da coroa portuguesa nos seus territórios coloniais,
incluindo o Brasil, do ponto de vista cultural. Tal política se evidenciou na ausência de
formação de centros superiores de formação, por exemplo. Outro elemento recorrente, desta
vez positivo para o Brasil, está relacionado à unidade política e territorial após a Independência.
Este é um elemento instrutivo muito utilizado nos estudos comparativos para o século XIX,
como justificação da monarquia de Bragança. Atores políticos da época e também historiadores
contemporâneos destacam a “paz” e a unidade nacional brasileira em comparação com a guerra
e a fragmentação que ocorreram no resto da América Latina. Há, ainda, motivos que parecem
se originar de uma perspectiva de que no Brasil, “não havia grandes civilizações indígenas”, ou
mesmo, que, diferente de outros países latinos, que se consideram mais europeizados, o Brasil
“possuía vocação mestiça”, frases que encontramos em livros didáticos. Estes exemplos,
questionáveis sob diversas formas de análise, servem, entretanto, para reafirmar a nossa ideia:
apesar do relativo desconhecimento, a realidade latino-americana sempre esteve presente na
cultura brasileira e ausente de maior aprofundamento em sua história e características nos países
da América hispânica. Destaque-se que até a língua espanhola tem sido uma disciplina
recorrente e na formação básica brasileira.