Victorino Cavinja Satchimuco
ENCUENTROS QUE ENTRELAZAN LAS IDEAS Y LA CULTURA DEL ARTE
(De la ekwenje a las posibilidades estéticas, artísticas y teatrales angoleñas)
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ENCUENTROS QUE ENTRELAZAN LAS IDEAS Y LA CULTURA DEL ARTE
(De la ekwenje a las posibilidades estéticas, artísticas y teatrales angoleñas)
ENCOUNTERS THAT INTERWEAVE IDEAS AND THE CULTURE OF ART
(From the Ekwenje to Angolan Aesthetic, Artistic, and Theatrical Possibilities)
ENCONTROS QUE ENTRELAÇAM IDEIAS E A CULTURA DA ARTE
(Da ekwenje às possibilidades estéticas, artísticas e teatrais angolanas)
Victorino Cavinja Satchimuco
1
PPGARTES-UNESPAR
Resumo
As ideias se propagam no desenrolar do desenvolvimento cognitivo da vida humana, e a
cultura restringe a inclusão e promovendo a diferenciação da visão e da manifestação
ideológica do que é ser, do que foi o ser, e do que venha ser: Tudo isto nos remete aos
encontros das ideias das pessoas que fazem-no ser, pelo que não sei como chamar o presente
texto, um projeto, um artigo ou um trabalho, sei lá, afinal, o avalio como uma provocação de
novos olhares de criação e de novos pensamentos de produção de ideias, bem como no que
venha expressar, talvez nas algumas alinhas como resultado da minha experiência com a
disciplina de especularidade, performance e campos expandidos, uma disciplina que compõe
o programa de mestrado em artes da Fap -Unespar, e como também um resultado de uma
curiosidade de ver um novo campo expandido de criação a partir da minha pesquisa, a qual
se assenta no estudo dos rituais, identidade do teatro Angolano, talvez, ainda seja ou também
venha ser, uma proposta que instiga a especularidade das ideias, seja da cultura e como da
arte, nos moldes pelo qual se entrelaçam as ideias culturais e artísticas, promovendo uma
configuração da linguagem criativa de quem as cria. O presente projeto, visa ressaltar o ponto
de partida das ideias que se encontram sobre a visão da ligação das linguagens entre a arte e a
cultura vice-versa, garantindo uma proposta pelo qual será, ou ainda ser identificada como
linguagem do sensível transbordando novas visões e novos lugares onde a permanecia ou o
ponto de partida é a visão, é o pensar, é o sentir, ou seja também, ainda, um assunto que pode
se chamar reação da ação artística sobre base da visão cultural.
1
Dramaturgo. Professor da UNILUANDA. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em
Artes (UNESPAR). Angola.
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Palavras Chaves: Encontros, Ideias, culturas, Arte, Teatro Angolano.
Resumen
Las ideas se propagan en el despliegue del desarrollo cognitivo de la vida humana, y la cultura
restringe la inclusión y promueve la diferenciación de la visión y la manifestación ideológica
de lo que ha de ser, de lo que ya ha sido y de lo que será: Todo esto nos lleva a los encuentros
de las ideas de las personas que lo hacen ser, así que no cómo llamar a este texto, un
proyecto, un artículo o una obra, no sé, después de todo, lo evalúo como una provocación de
nuevas perspectivas de creación y nuevos pensamientos de producción de ideas, así como en
lo que expresaré, tal vez en algunas líneas como resultado de mi experiencia con la disciplina
de la especularidad, performance y campos expandidos, disciplina que forma parte del
programa de maestría en artes de la Fap-Unespar, y así como resultado de una curiosidad por
ver un nuevo campo de creación expandido a partir de mi investigación, que se basa en el
estudio de los rituales, la identidad del teatro angoleño, tal vez, sigue siendo o también será,
Una propuesta que instiga la especulación de las ideas, ya sean de cultura o de arte, en las
formas en que se entrelazan las ideas culturales y artísticas, promoviendo una configuración
del lenguaje creativo de quienes las crean. El presente proyecto pretende poner de manifiesto
el punto de partida de las ideas que se encuentran sobre la visión de la conexión de los
lenguajes entre el arte y la cultura en sentido contrario, asegurando una propuesta por la cual
éste será, o incluso se identificará como el lenguaje de lo sensible, rebosante de nuevas
visiones y nuevos lugares donde la visión permaneció o el punto de partida es la visión, Es
pensar, es sentir, es decir, también, todavía, un tema que puede llamarse la reacción de la
acción artística sobre la base de la visión cultural.
Palabras clave: Encuentros, Ideas, culturas, Arte, Teatro angoleño.
Abstract
Ideas spread throughout the unfolding of cognitive development in human life, and culture
restricts inclusion while promoting differentiation in the vision and ideological expression of
what is to be, what has been, and what will be. All of this leads us to the encounters of the
ideas of those who bring them into being. So, I am unsure what to call this texta project, an
article, or a work of art. Perhaps it is best understood as a provocation of new perspectives on
creation and new ways of thinking about the production of ideas. It is a reflection, perhaps in
a few lines, on my experience with the discipline of Specularity, Performance, and Expanded
Fields, which is part of the Master's program in Arts at FAP-UNESPAR. It also arises from a
curiosity to see a new expanded field of creation emerging from my research on rituals and
the identity of Angolan theatre. Perhaps this is, or will also be, a proposal that provokes
speculation about ideaswhether cultural or artisticand the ways in which cultural and
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artistic concepts intertwine, promoting a configuration of the creative language of those who
produce them.
This project aims to highlight the starting point of ideas that arise from the vision of the
connection between artistic and cultural languages in reverse, asserting a proposal in which
this may beor may be recognized asthe language of the sensitive, brimming with new
visions and new places where vision remained static or served as a starting point. It is
thinking, it is feeling, and it is, perhaps still, a subject that may be called the reaction of
artistic action grounded in cultural vision.
Keywords: Encounters, Ideas, Cultures, Art, Angolan Theatre.
Introdução
As ideias são resultadas do processamento e funcionamento psicológico, bem como
cognitivos dos seres humanos, os quais decidem mudar algum lugar ou modificar uma
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realidade, inovar ou incorporar novas formas, ou ainda dar continuidade de princípios
proporcionados pelo passado, pelo qual venha se repercutir no campo de suas problemáticas
no futuro. Estamos diante de um novo olhar sobre a visão de produção de uma nova realidade
que poderá se transformar numa cultura, seja ela passiva ou ativa, mas que poderão cruzar
novas percepções do que se ouve, do que se vê, ou do que se pensa, diante deste princípio, o
presente trabalho visa expressar a relevância da diferença cultural para promoção da cultura
artística, no qual o ser não deixa de ser, se tornando outro ser sem deixar de ser, embora,
parece ser uma controvérsia de ideias porque uma pessoa que esteja exposto a viver uma
outra realidade acaba pertencendo ao grupo desta nova realidade, fazendo deste um ser, ou
pessoa diferente da que já era no princípio.
Na verdade, tanto a cultura artística e a cultura social e humana, tendem suas manifestações
em ideias, e essas ideias se dão na ação sobre o olhar daqueles que os promovem e os
produzem, os ser humanos, mas ainda assim, são dois fatores que permite ao artista e ao
público uma visão de encontro e de conversação ideológica, no qual, é obrigado o princípio
da aceitação e pouco o princípio da negação, a onde cada princípio se subpõe ao que estiver
em ação e no comando, para melhor saber onde se destaca e como se destaca a percepção
sobre base da diferença que se expressa deforma artística, enquanto se compõem ou se destaca
a estética ou a poética de qualquer resultado da ação criativa humana, em um determinado
espaço definido.
Fotos de Victorino Satchimuco; (2020)
Modelos e Atores Ad Camela e Zezinho SC
Outro olhar de criar
Outro método de se exprimir
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Outra via de chorar
Minha outra forma de sentir
Talvez sempre outro modo de fala
Minha poesia não preço
Minha boca não freio
Minhas lágrimas não morrem tão cedo
Meus medos não têm vergonha por isso não se escondem
Poeta Sofrencedor (Victorino Satchimuco)
A criatividade não é um sentido réplica da vida humana, nem tão pouco a realidade dela, mas
sim, a realidade de uma nova proposta de perceber o impercebível, uma outra perspectiva de
aceitação e transformação da realidade sobre uma realidade justa que reflete a vida real do ser,
seja no espaço físico ou fictício. A criatividade artística é uma realidade transcendental da
alma de quem cria a obra, e a define como um objeto que reverbera a ideia de uma esperança
sem vida, em uma vida que não motiva o corpo que transporte as almas de outros vários
corpos que com ele se relacionam. O exercício da criatividade uma viagem imutável onde o
conformismo tende afogar suas mágoas na infalível possiblidade de um objeto falar menos
que a voz do artista que transcende o silencio da fala com a boa vontade de se firmar num
mundo de diversas diferenças ideológicas, socioculturais, políticas, daí, que a arte ou a
criatividade artística não é replica do real mais sim um real apresentado numa visão muito
mais subjetiva.
Cultura da Arte
Segundo, Paz (1998: 47),toda frase possui uma referência a outra, é suscetível ser explicada
por outra. Graças à mobilidade dos signos, as palavras podem ser explicadas pelas palavras:
É nesta cosmovisão que nos releva a ideia de se explicar pela ideia, a cultura ser exposta pela
cultura, afinal as formas pelos quais elas se expressam dão sentido a ideia da vida e a reação
dos feitos dela mesmo. Partindo da ideia que a arte tendeu à vários conceitos no decorrer do
tempo, com desenvolvimento de teorias e surgimentos de vários autores, pesquisadores,
artistas e não só, dando sentido a palavra arte na linguagem comum, tal como na linguagem
filosófica e pelo qual ainda se entende a arte numa visão do sentido restrito, como obra de arte
aquilo que está exposto nos museus, no teatro, nas galerias ou em qualquer contexto teórico,
histórico e institucional legitimador. Assim como também, a arte em sentido mais amplo,
vindo a ser o resultado daquilo que fez o ser desenvolver, como tempo, lugar, acontecimentos
(memórias), dos quais resultam da experiencia inovadora (criação), originalidade, de modo
que qualquer sector das atividades humanas poderem ter um núcleo reconhecido como
artístico, desde que envolva um criativo potente, ou uma experiencia estética, um olhar crítico,
bem como abertura de um novo modo de habitar no mundo.
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De acordo com Michel Dufenne (2015:11), o ser do objeto estético depende da percepção e só
se realiza na percepção. Por fim, o problema do estatuto (Percepção) do abjecto estético.
Visto que o objeto estético é não um em si, como também um para si. É deste pensar que
podemos entender, que não se pode perceber o impercebível enquanto agente da ideia, para
que o objeto não venha somente ser mais um objeto em exposição, a ideia de que um encontro
entre a experiência do ser criador e a criação, diante do público, poderá existir se os dois
seres tanto o que e o que expõem conseguiram entender ou perceber o que foi criado e
exposto em um determinado lugar.
Por isso nesta desenvoltura de ideias, talvez percebamos que a cultura da arte, é uma
realidade que se expressa de uma ideia e se desprende de uma ação interna, resultando de
uma ideia original, natural e simples numa perspectiva de vida e do quotidiano, visando
explorar a outra face da mesma, (vida do público e da sociedade em geral) sobre novas formas
que se vão encarando e percebido durante a sua faze de exposição (ao público) e exploração
(do público à obra do artista e do artista ao público), definindo uma outra visão, definindo o
lugar, o público, o tempo, definido pelo seu objetivo de existir. Podemos assim, entender que
a cultura da arte, expressa esse papel e desejo de coadunar a percepção e a reflexão, visando a
existência e permanência da comunicação ou interação de dois seres iguais com experiências
diversas e meramente diferentes.
Ekwenje como ideia cultural
Segundo Altuna(2014), a iniciação às sucessivas etapas da vida da pessoa, nascimento,
puberdade, casamento, morte, adquire uma importância constitutiva, fundamental. Sem ela, a
pessoa não se vai fazendo, completando, realizando. ela situa no lugar religioso, social e
ético exato, a torna apta para os seus direitos e responsabilidades e lhe permite movimentar-se
sem traumas e com eficácia na pirâmide vital interativa.
Nesta mesma perspectiva, os rituais de iniciação são ideias que possibilitam o ser a criar
objetos que expressam o valor e o resultado da arte, o ser, no qual está centrado sua forma de
expressão para criação e inovação enquanto desenvolve suas técnicas de produção artística
diante do seu tipo de linguagem. O Ekwenje, além de ser uma forma de iniciação a vida,
também é um centro situações e fazes pelo qual se desperta nele as novas ideias ao olhar de
quem cria, situações ou ideias estas que são expressas no dia a dia do iniciado com os outros
seres, tal como diante do universo e com o objeto, partindo das características da
subjetividade, o qual o mesmo é incapaz de explicar ou descrever, fazendo desta incapacidade
a realidade da criatividade da linguagem artística, nomeadamente uma ideia que cruza as
outras, para definir no campo da linguagem artística.
Ideia Cultural
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Altuna afirma que os ritos de iniciação Bantu, não são ainda conhecidos e nem se sabe ou se
chegou a descobrir sua complexidade. Pois nas suas referências místicas que
desconhecemos e utilizam linguagens e nomes cifrados, esotéricos, que nunca revelam ao
profano ou estranho: (Altuna, 2014: 278).
Ao afirmar esta realidade me remete a lembranças das memórias construídas quando fui
submetido à escola de iniciação para a minha iniciação, os cantos, os provérbios, os jogos e
desafios de vencer as dificuldades quando elas nos obrigavam a lutar pela vida, fizeram e
fazem do iniciado um ser colocado em um lugar, onde a ideia primária é o entendimento deste
princípio no tempo definido para vida toda, e a isto, posso chamar um processo e um tempo
laboratorial para atender a demanda da vida quotidiana depois da escola, nestas ideias e nestes
valores absolvidos guardados, são os mesmos pelos quais a arte se apropria para melhor se
expressar e se firmar enquanto linguagem. É uma ideia cultural o ekwenge, quando ela define
sua existência no processo da vida humana enquanto agente social e transformador, afinal é
destas ideias onde se fundamentam a sua coexistência vital e das famílias dos diversos
subgrupos, nomeadamente o dos Ovimbundus o qual faço parte e sou originário.
Ekwenje
O ekwenje, (omanlavalumevandavussengue ócio vatetiwe, ecivatetwile, civanguiaati,
omanlavakwenjevandelevussengue), são as crianças do gênero masculino, que vão ao
convento ou a um lugar recôndito distante do seio familiar para a circuncisão. Depois de
retornarem no seio familiar diz os filhos ou rapazes foram a mata para circuncisão.
É uma escola de iniciação masculina, que se constitui como particularidade cultural por vários
ritos de sucessão, como a separação dos iniciados da família e da comunidade, nos diversos
povos e lugares de Angola sendo assim compostos por:
Reclusão (acampamento aberto na selva).
Circuncisão
Situação Marginal
Ressurreição e Regeneração
Altuna afirma ser situações que por estarem carregadas de emoções, mistérios, dramatismo,
religiosidade e alegria originam uma vivência psíquica que marca e determina para toda a
vida o homem bantu.
muitos anos e até os dias de hoje, para se fazer o ekwenje, era necessária uma preparação
prévia, uma preparação psicológica, e uma sensibilização, tanto do iniciado quanto da família
dos iniciados. A reclusão ou recruta é um exercício feito, para manter e impedir o candidato
para não fugir da escola. Para alguns lugares, na primeira noite dos iniciados, a iniciação
passava no ombelo, um lugar que foi separado e preparado para receber os candidatos e
prepará-los para a vida e para o futuro.
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De acordo com Ndafimana, Almeida e Nkhulwavo(2014: 37), no dia seguinte depois da
reclusão, os rapazes eram transferidos para o ocombo no meio de uma mata, lugar pouco
acessível para os demais membros da comunidade bem como das famílias dos iniciados, e
eram circuncidados.
Estas escolas estão e sempre estiveram em ação, seja para o norte, sul e centro sul de Angola,
com suas variadas diferenças ao quesito que pode passar nelas, com quantos anos deve passar.
Por exemplo na Huíla para os Yanekas, Muhumbi, a idade para a iniciação não era tida em
conta, sendo bastante abrangente;
Pois poderia começar de criança de alguns meses ao adulto de 20 anos, enquanto para outras a
idade se leva em conta, por causa dos procedimentos e dos momentos que o iniciado estará
sujeito aceitar e viver, bem como correr riscos até de morte. Para alguns grupos o ritual de
iniciação não era realizado todos os anos, afinal o intervalo de cada cerimonia poderia ser de
10 anos e variar entre 10, 15 anos depois. No ato da circuncisão, para o grupo acima
mencionado, os iniciados eram encostados a uma arvore ou sentados sobre uma pedra, tendo
por baixo das pernas, empomba (fezes de boi) ardentes, sobre as quais vai caindo o sangue do
circuncidado. Nos primeiros dias, o O´ongue passava a noite no ocombo com os rapazes, para
acudir a qualquer situação anormal e acompanhá-los o melhor possível. Já nos três primeiros
dias, depois da circuncisão, muito cedo, todos se deslocavam para a omunhamba, uma árvore
escavada, onde os circuncisos molhavam a ponta do pénis na resina, para desinfetar a ferida e
fazer curativo de seguida. Tem vários outros passos a seguir para o cumprimento deste
processo, para o iniciado ser propriamente considerado iniciado, a serem relatados no decorrer
da dissertação em andamento.
Já na minha terra natal, e durante a minha passagem neste ritual como iniciado da minha tribo,
estarei a presentado como memórias que ainda levo comigo nos dias de hoje, buscando
possiblidades de relembrar minhas vivencias que darão sentido no desenvolvimento da minha
dissertação.
Minhas Memórias
O Onjango Familiar, é recinto no qual a família se reúne para tratar assunto da família e não
só, para os regedores ou administradores comunais ou distritais, reis e não é chamado
ombala, que significa tribunal onde se julga vários assuntos voltados a violações, adultérios,
roubos, traições, injustiças entre outros vários assuntos sociais na comunidade.
Antes, de o candidato ir à escola de iniciação masculina, na minha tribo alguns chamavam e
até hoje chamam de convento, é preciso que haja uma reunião entre os pais e os tios, junto dos
soberanos os quais têm o poder de decidir certos acontecimentos ou eventos socioculturais.
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Se encontravam meu pai e meus tios naquela conversa em que procuravam encontrar o meu
Nawanhangue (em umbundu) aquele que é Meu Padrinho de iniciação), me lembro como se
fosse hoje, meu primo chocolate, o qual foi feito Nawahangue.
Este é que me acompanhara até o dia dê, ele tem a responsabilidade de negociar com o Puc
(Puque) aquele que é tido como Médico de iniciação, para a minha iniciação, o nawhangue é
o meu vigilante, meu padrinho desde o início do ritual de iniciação até o final.
Antes de ser iniciado o meu Nawahangue tinha a responsabilidade de negociar com o Puc,
levando uma galinha, farinha de milho, aguardente, como agradecimento, por ter aceite seu
afilhado na escola de iniciação, permitindo assim o Nawahangue acompanhar a estadia do
iniciado no convento.
O Nawahangue, que vai me prestar atenção no local de formação e de iniciação, ele é a pessoa
que recebe a comida do iniciado, por parte da família, são 3 meses de muita exaustão para o
iniciado durante a sua estadia no convento.
É o padrinho do iniciado que presta informações do iniciado para com as famílias, tendo em
conta os ocorridos de morte de um candidato.Cada família comprara um tecido de pano, para
fazer o traje para o dia de se apresentar e voltar a família.
Indica-se um iniciado que servirá de guia, para nós chama-se Kessongo que passa adiante dos
outros para mostrar o caminho, enquanto a isto os demais vão seguindo o guia.É um momento
de muita alegria entre as famílias, em receber os iniciados com vida, realiza-se uma festa
grande conjunta das famílias dos iniciados, outrossim, é em casa do guia onde passam para
festejar.
na terceira semana, os iniciados são guiados pelos seus Nawahangues aos lugares
chamados:Otchilombola, Otchiengue, Mukanda
Onde os iniciados serão dirigidos a ter contacto com as figuras que transbordam a
espiritualidade dos povos e dos ancestrais de cada povo no grupo. Este processo de direção
chama-se Okuvassenguiwa (okuvassengula).
É exercício que visa despertar a superação do medo, isto resume-se em passar de baixo dos
pés ou entre o meio das pernas dos Tchingange vulgos (Palhaços).
Nawahangue- Padrinho do candidato ou iniciado
Puque Enfermeiro de faz a circuncisão
Kessongue - Primeiro iniciado que dirige a caravana para a reintegração ao seio familiar dos
iniciados, depois de 3 a 4 meses de reclusão. É em casa dos pais deste iniciado onde se reunia
todos os iniciados, sentávamo-nos na esteira, enquanto se dançava, se tocavam os batuques
(percussão), juntos cantávamos as canções de vitória e ressurgimento a nova era, depois da
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sessão em casa do nosso guia ou nosso kessongo, se fazia outra caravana para a casa de cada
iniciado até todos serem reintegrados no seio familiar. Era uma festa enorme em casa do guia,
porque era realizado pelos pais de todos os iniciados que venceram o desafio.
Idea cultural e Idea Teatral
Cultura social e a cultura artística são reflexões que nasceram como um novo campo
expandido para refletir a linguagem da atividade criativa e teatral em Angola, sobre base
daquilo que tem sido meu pensamento e o meu olhar em tudo a minha volta enquanto artista,
e do que vem sido proposto no campo artístico e teatral do qual se manifestam rios
princípios que instigam a realidade social, político, econômico, onde a liberdade de expressão
é um fator que a muito se leva nos palcos como via de alcançar a paz no fazer e no
desenvolver o espirito de independência e liberdade criativa artística, localmente falando fora
das visões do euro-centrado.
Tanto a cultura artística e a cultura geral, social e humana, são reflexas nas ideias, ou seja, nas
ideologias que se manifestam a linguagem, e que estes fatores de linguagens tendem a
diferenciar ela diante de suas funções ou objetivos.
Curado, se submete a reflexão de (SANTAELLA, 2001). A qual formula a hipótese de que
haja três matizes da linguagem e do pensamento. A sonora, a visual, e a verbal, afirmando
que a primeira é uma questão de primariedade, do qual o signo é icônico reumático, a segunda,
de secundariedade, signo indicial, discente e a terceira, de terceridade do signo simbólico
argumental. Diz ainda que os três matizes se comportam como vasos intercomunicantes, num
intercâmbio permanente de recursos e de transmutação incessantes (SANTAELLA 2001:
373).
A autora ou estudiosa defende que as linguagens também se hibridizam em cada matriz e
embora cada uma delas se presentificam na outra, as três de maneira individual estão no
estado mais próximo do puro.
A sonora se aproxima do ícone, a visual do índice e a verbal do mbolo, por isso para
compreender a percepção, a noção de sensação é fundamental; A sensação não é nem um
estado ou uma qualidade, nem a consciência de um estado ou de uma qualidade, como definiu
o empirismo e o intelectualismo. As sensações são compreendidas em movimento:
A cor, antes de ser vista, anuncia-se então pela experiencia de certas atitudes de corpo que
convém a ela e com determinada precisão. (Marleau-Ponty,1994: 284). A percepção está
relacionada à atitude corpórea. Essa nova compreensão de sensação modifica a noção de
percepção proposta pelo pensamento objetivo, fundado no empirismo e intelectualismo, cuja
descrição da percepção ocorre através da causalidade linear estímulo-resposta.
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São estes estímulos respostas, que nos remetem a viajar sobre a visão da diversidade cultural,
dando sentindo as várias culturas, uma delas é a que proponho desde o resumo. Então, a
Cultura é um conceito amplo que se refere a um conjunto de conhecimentos, valores,
tradições, costumes, ideias, símbolos e práticas, ou princípios compartilhados por um
determinado grupo ou povo. Pode também, ainda se difundir como o elemento fundamental
da identidade cultural de um povo por ser um fator que pelo qual se transmite conhecimentos
particulares e locais como base patrimonial de um determinado povo passando de geração em
geração. Assim sendo, a cultura artística ou da arte, pode ser também princípios pelos quais se
transladam de lugar a lugar, de artista para artística, onde sua realidade de conceitos e desafios,
acarreta no seu âmago necessidades, perguntas e respostas, vivencias e melancolia, ideias e
visões que determinam a esperança e experiência do sensível do público da estética pelo qual
ela é caraterizada ou percebida, por isso posso julgar, que o encontro ser criador e praticante,
(relaciona e faz relacionar as duas culturas), para se expressar, ou resistir à vida nos tempos
mais desafiantes e contemporâneos dando oportunidades de outras e experiencias fazendo
assim, o encontro das ideias e promovendo o entrelace das linguagens.
Teatro Angolano
O teatro Angolano, encontra-se em evolução e em desenvolvimento, por causa da
preocupação dos grupos contemporâneos em promoverem novos encontros e novos
pensamentos, tal como também reverem as ideias que despertam no seu âmago uma expressão
local revestida em base de vários fatores culturais nos quais se assentam a realidade de vida
dos próprios angolanos e não só. A veracidade dos fatos e presença destes fatores fazem a
revolução artística do teatro dia pós dia em salas de espetáculos, em festivais, em salas de
debates entre outros aspectos que fazem sua própria composição de fazer, promovendo uma
poética artística e teatral de Angola, não obstante das dificuldades que tem vivido e passado
para se manter, por isso podemos sim dizer que sim vestígios de resgate dos valores
miméticos, lúdicos e sensíveis culturais, para definir sua própria forma de se expressar nos
palcos e nas cenas (lugar, como também estrutural ).
De acordo com Abrantes (2005). As referências mais antigas do teatro em Angola, podemos
encontrar datadas desde o ano 1605, trinta anos depois a fundação da cidade de Luanda. Nota-
se registos de uma escola religiosa junto do convento dos Jesuítas da companhia de Jesus.
Além desta, outras escolas religiosas também abertas pelos franciscanos e mais tarde, no
século XVII, nota-se a chegada das carmelitas descalços, dos capuchinhos italianos e outras
congregações religiosas, os quais na maioria das vezes durante os seus ensinamentos da
verdade cristã, do sagrado, realizavam encenações ou teatralidades a partir das personagens
bíblicas tanto do antigo como do novo testamento.
Nesta senda, verifica-se um mero encontro de ideias, como é o foco deste projeto, dando
sentido a relação de adaptação e recepção daquilo que se recebe a partir deste exercício de
encenação, onde quem encena transmite uma experiência de um outro lugar e o que recebe ou
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assiste acaba desenvolvendo esta percepção do novo lugar, de uma nova ação ou situação ao
deixar entrar para dentro de si algo novo, é o este processo que desperta o entrelace das
linguagens culturais e artísticas entre os seres que dão um novo sentido, disto o ser, está
sujeito de fato a uma realidade de linguagem artística e do sensível. Depois desta faze
acontece o princípio do filtro, daquilo que se recebeu durante anos, de modo a velar pelos
princípios locais, a fim de criar uma nova realidade embora diferente sobre base do que já foi
encontrado antes do processo de aculturação e aceitação, a este fator podemos considerar
como dinamização da cultura e o desenvolvimento de uma cultura artística resultante deste
encontro de ideias, que vira reverberar no surgimento de uma nova linguagem, sociocultural e
artístico. É assim, que de fato se faz uma nova forma de fazer e construir um novo teatro em
Angola, me lembra que desde 2004 quando comecei a observar e registrar a desenvoltura das
manifestações teatrais em Angola, me traz a memória esta relação entre a cultural patrimonial
e a cultura artística, interligando visões de resiliência e resistência ideológicas, proposto pelo
ser e pelo criador artístico, onde as línguas regionais marcam sua presença mesmo com a
língua portuguesa dentro da cena entre esses encontros de códigos, grupos se recusam
abandonar uma ou outra língua para fazer chegar seus resultados criativos, a isto reflete uma
nova forma de fazer o feito, romper a tradição de fazer chegar o que foi feito e uma nova
realidade de sentir e fazer sentir o que ainda não foi feito, razão pelo qual destes encontros de
ideias desenvolverem esses entrelace culturais para dar sentido a diferenciação das linguagens
artísticas, o que também se pode definir como desenvolvimento e presença estética da criação
artística.
De acordo com Abrantes (2022), na sua “Uma obra breve história geral do teatro”, afirma que
ao fazer a compartimentação da literatura tradicional angolana, o missionário suíço
HéliChantelain, desembarcado em Angola em 1885, constatou que a quinta classe de
literatura por ele considerada era a da “poesia e música”, estando nela representados os estilos
épicos, bélico, idílico, cómico, satírico, dramático e religioso. Segundo afirma que essa poesia
era cantada e a música raramente se compunha sem palavras.
Abrantes, afirma ainda que fácil e constatar, portanto, que a par das práticas mágico-religiosos,
existiram e existem formas festivas e populares de caráter profano, compostas de danças,
canções, poemetos, provérbios, advinhas, mitos, lendas, contos, mascaradas etc. É assim, que
a visão do entrelace das ideias transcendem o existente para criar o inexistente, como a
possiblidade de produzir um teatro que expressa por si só, sua forma, sua particularidade
desde então o seu ponto de partida que é a cultura primária. Assim sendo o teatro Angolano se
destaca na particularidade dos valores intrínsecos na expressão cultural de quem o promove
como também de quem os produz, os elementos expressivos destas particularidades culturais
definem novas formas e novos horizonte de ver o princípio da criação artística e teatral em
cada lugar ou em cada canto do País.
“No período 1975-1984, marcou-se o despertar das populações para
o teatro apresentado naquela época, com destaque para as
mensagens com um elevado cariz político e ideológico envolvendo
sempre a juventude nos trabalhos. O combate as práticas coloniais e
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valorização das conquistas e vantagens da Independência. Verifica-se
a elevação do nível de cônscia política das populações e exaltação
dos heróis da Independência e a construção de uma sociedade com
ideologia social”; Orlando Domingos, em mesa redonda por ocasião
do dia Mundial do Teatro 27 de Março de 2025 na Faculdade de
Artes da Universidade de Luanda.
Objetos e Simbologias na Produção Artísticas
Como cita a Cavalcanti (2020), diante do olhar da Antropologia de Turner, ele considera os
símbolos, que são e sempre serão objetos concretos, que situados entre outros símbolos,
funcionam plenamente no contexto ritual. Vai ainda além, quando Turner vai dizer que o
ritual é, a um só tempo, um contexto sociocultural e situacional característico.
“Nesse ambiente, impregnado de crenças e valores, os símbolos
exercem sua eficácia plena como articuladores de percepções e de
classificações, tornando-se fatores capazes de impedir e organizar a
ação e experiencias humanas e de revelar os temas culturais
subjacentes”.
Cavalcanti, 2020
São nessas ideias, onde os reflexos daquilo que nos define como ser integrante de um
determinado lugar e de um determinado povo ou grupo, nos vai remeter a novos horizontes de
vida e de percepção, podemos ainda entender que os símbolos e os objetos são elementos que
subdivido em classes ou em diversas fazes, sim, de fato trazem novas percepções e pelos
quais se criam novas ideias e novas realidades, novas linguagens e uma delas, é a possiblidade
de existência de uma nova característica no objeto final, que pode ser considerado como
matéria final ou produto resultante deste encontro de ideias e reflexões, que podemos dividir
ou classificar da seguinte forma:
Temporal, Intemporal, Semi temporal da existência humana.
Simi Temporal
Fator quase, ou fator metade-temporal, são fatos que revelam a função quase, de um fator
situacional que revelam o presente e passado sobre base de fatos que visam informar o futuro
a partir de uma simbologia e do objeto.
Temporal,
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Fator, algo, ou o significado e a existência de algo, contando no tempo, que coexiste, mas que
muda suas características, suas formas, suas percepções de acordo a visão social e da
população que dão sentido à vida da mesma.
Intemporal
fator que não está sujeito à ação do tempo.
Atemporal ou invariável.
Que não pode ser enquadrado em determinada realidade; (Acrônico).
Atemporal é um fator, que permanece válido, belo ou necessário apesar dos anos, décadas,
séculos ou milênios que o separam da época atual. Também pode ser algo que embora,
extremamente pestilento, persiste em existir, apesar das mudanças radicais que o mundo
humano passa ao lingo do tempo. São estes fatores do tempo e no tempo que marcam e
promovem a existência dos objetos, influenciando assim, o sentido simbologia em qualquer
fator expressivo, enraizado no amago do valor sensível da criação como costume, como
cultura, como hábitos, mas que englobam também o segredo da inovação e revolução material
e imaterial do homem para o artista e do artista para o público.
As matrizes não são puras.
De acordo com SANTTAELLA & ASTH (2019), as matrizes têm a função de relacionar
dados numéricos, isto na matemática. Por isso o conceito de matriz não é importante na
matemática, mas também em outras áreas já que as matrizes têm diversas aplicações. Matriz é
uma tabela organizada em linhas horizontal e n o número de colunas verticais. Daí, que a
ideia dos objetos acima mencionados, nos levam a compreender o sentido simbologia do
objeto, para entender a linguagem como resultado criativo de uma artista, consagrando sua
obra em uma obra arte, dos objetos símbolos, que vos proponho apreciar, abarca esta
delimitação cultural, das tribos em geral do povo Bantu, que dia pois dia se navega o sentido
do passado, no presente, diversificando assim, o sentido da vida e o modo de viver deste povo,
garantindo um futuro que se opõem a ser estudado, a ser entendido e a ser preservado. Ainda
assim o raciocino nos leva a concordar com Lúcia Santaella, quando fala que as linguagens
não são puras, porque os objetos, representam uma simbologia, a simbologia cria uma
linguagem, o qual a quem recria sobre ela divergem o conceito das ideias, de acordo, o tempo
e o lugar, fato que transcendem o entendimento de qualquer, mas que promove a dinâmica
racional do artista, quando se ocupa em entender o sentido dela para o mundo.
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Todas as linguagens são hibridas
Quando se trata de linguagens existentes, manifestas, a constatação imediata é a de que todas
as linguagens uma vez corporificadas, são hibridadas. A lógica das três matrizes e suas 27
modalidades desdobradas em 81 nos permite inteligir os processos de hibridização de que as
linguagens se constituem.
Na realidade, cada linguagem existente nasce do cruzamento de algumas sub- modalidades de
uma mesma matriz ou do cruzamento entre sub-modalidade de duas ou três matrizes. Quanto
mais cruzamentos se processarem dentro de uma mesma linguagem mais hibrida ela será.
Deste modo, por exemplo a linguagem verbal e oral, apresenta fortes traços de hibridização
tanto com a linguagem sonora, quanto com a linguagem visual na gestualidade que
acompanha. A criação de narrativas é um aspecto indispensável da experiencia humana.
Como comenta Barbara Hardy, a criação de narrativas é um ato fundamental da mente
transferido da vida para a arte.
Ekwenje como linguagem hibrida cultural e artística
O ritual de iniciação ou de passagem masculina, que vigora nos grupos que compõem O povo
Bantu em Angola, é uma escola que envolve diversas particularidades culturais, o mesmo,
assim como vimos anteriormente acima, é um dos fatores que desperta de alguma forma uma
linguagem artística, ou amesmo se resumir em um fator de processos criativos de vários
artistas locais, seja na dança, na música e no teatro, são fragmentos que tenho vindo a
constatar no campo artístico desde os anos 2004. O ser não artista se encontra no meio e em
condição de relacionar este pensamento cultural para um pensamento de atividade criativa, da
sim, um sentido de entrelace e de encontro de linguagens entre o fator cultural e artístico, ou
ainda, de culturas que idealizam uma nova forma de se manter e de se expandir diantedeste
processo, o valor sensível já mais ficou de fora.
Diante de tudo isto, estimula a necessidade de olhar para as artes, seja qual for ela, constituída
por vários objetos e pelas subjetividades dos mesmos e destes desenvolvem a simbologia
como base do entendimento do que venha ser diante a quem o interpreta.
Assim, a Dança no Ekwenje também é resultado destes objetos e simbologias que dão sentido
a expressão individual, coletiva, para resistir diante de um desafio criativo, por parte dos
iniciados no convento, assim como vimos anteriormente, a configuração dos nomes que os
iniciados recebem, o nome que o acompanhante ou padrinho iniciado recebe, bem como o
médico e os demais iniciados e a nova denominação que o lugar recebe, diversas
complexidades e posições fariam a vês, a existência de um determinado espaço, um
determinado tempo e um determinado fator histórico, para o processamento de uma obra
artística.
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Contar e ouvir histórias nos permite três processos fundamentais:
- Organizar momentaneamente a experiencia em uma série de memorias;
- Prever um futuro;
- Vivenciar através da história de outros, o que da história de outros, o que nunca
experimentamos.
O primeiro, indica noções de quem somos identidade enraizada na memória.
O segundo nos permite ter esperança, expectativas e organizar nossas ações, o terceiro,
forma a base de grande parte de nossa aprendizagem e educação formal.
Todos nós tendemos a construir nossa própria história e pessoal da mesma forma que um
artista cria um trabalho de arte, selecionando e ordenando, experiencias em um banco de
memorias que se torna o significante de nossa identidade.
Muito do que nos acontece, é considerado por nossa memória como insignificante, e
abandonado na sala de edição enquanto editamos o filme de quem somos. Uma boa saúde
mental requer que seja desenvolvida e mantida em uma história pessoal coerente, que seja
respeitada, tenha valor e significado. São fatores estes que fazem dar vida, a alma criativa, a
existência de corpos recheado do pendor artísticos, despertando o valor sensível para quem
está expondo, para quem está apreciando, para quem está analisando. A arte, é uma linguagem
hibrida, voltado a campo de criação o seu campo de visão os objetos e as simbologias do valor
que o artista desprende de suas emoções para despertar emoções ao público para é direcionada.
Conclusão
Diante de todos aspectos tratados durante a compilação do texto presente, nos remete a uma
realidade distintas pelo qual se assenta a percepção do que venha ser a descodificação de
ideias e a relação da diferenciação de ideias com base os seus campos de atuação, a arte nos
oferece a liberdade de se expressar enquanto a observamos, bem como a liberdade de o fazer
enquanto a produzimos, uma vez, a cultura, se restringe no olhar da preservação e é desta
preservação que instiga a curiosidade de melhorar o entendimento dela por parte do ser
criador e artístico, porque desta curiosidade, promove a imaginação para uma nova forma de
linguagem expressiva e artística. O ekwenje como manifestação cultural, contém no seu
amago seus princípios de criação e seus fragmentos artísticos não convencionais, a cultura
artística se aproveita destes fragmentos não convencionais para solidificar a qualidade ou
melhorar sua forma de permanência e presença artística durante um novo espaço ou lugar,
onde nos venha permitir enxergar o encontro das ideias e o entrelace ou cruzamento de novas
linguagens sobre base da vida humana enquanto ser pelo qual arte ou objeto e a cultura da arte
provem.
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Ainda em gesto de conclusão podemos concluir, que os encontros, são aqueles cruzamentos
que despertam a relação do ser com o espaço, e que este espaço pode ser lugar de fala, de
vida, de experiência para a construção de uma nova realidade, onde o princípio da absolvição
de tudo que este lugar e aquilo que o ser traz, desperta o interesse ou o motive os demais
encontrados ou o que encontra a criação, de uma obra, um objeto revestido de realidades de
uma memória criada no passado, vivendo no agora e futuramente. Assim também Ideias, são
aquelas que não definem o ser, tal como não definem o espaço, mas tendem a despertar
uma realidade mais afetiva e abrangente para uma sociedade em construção e em
desenvolvimento sobre base de uma estrutura já existente definido por culturas em progressão.
O teatro Angolano, está assente nestes fatores, que se destacam como ideias, que se firmam
como encontros, quando observados embora o mesmo não venha apenas se constituir por
valores e princípios seculares, como também acarretam no seu âmago, valores e princípios
sagrados. São estes princípios e valores que definem a realidade atual do teatro angolano
como também a pressão da natureza comunitária e social do mesmo povo.
Anexos
Onjango = Lugar de decisão e dissolução Lugar de preparação e formação
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Tchingange= Entidade Espiritual e cultural Puqui, Nawahangue e Ukwenge
Dentre as canções do ekwenge estáminha poesia, dela minha linguagem e vida; Poeta
Sofrencedor (Victorino Satchimuco)
Referências Bibliográficas
Abrantes, M. J. (2022). Uma breve história geral do teatro. Kacimbo.
Calvacanti de Castro Viveros, L. M. (2020). Drama, ritual e performance: Antropologia de
Victor Turner. Mauad X.
Curado, E. M. (2012). Linguagens e hibridismo. Universidade Estadual de Goiás. Texto
digital, Florianópolis, jul./dez.
Victorino Cavinja Satchimuco
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Ndafimana, M. A., Almeida, T. F., & Nkhulwavo, F. (2014). Irmã Teresa: A herança no
Grupo dos Ovahanda. Paulinas.
Nóbrega, P. T. (2008). Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte: Escola de Psicologia, 13(2), 141148.
Santaella, L. (2013). Matrizes da linguagem e pensamento: Sonora, visual, verbal.
Iluminuras.
Victorino Satchimuco
cavinja.92@gmail.com
O currículo deste autor se encontra no rodapé da primeira página de seu artigo no dossier.