Desbravar a América Latina é um sonho que abracei desde que coloquei uma mochila nas
costas. A mochila pequena, ainda na escola, me levou às aulas de história e ao fascínio pelos
povos pré-colombianos: “De onde esses caras vieram? Como construíram monumentos e
cidades tão espetaculares empilhando pedra sobre pedra?”.
A mochila grande, já na estrada, me levou a ver a história com os próprios olhos; a sentir os
cheiros, ouvir sotaques e línguas tão diferentes da minha, a experimentar sabores que eu sequer
imaginava. Passar apuros, sentir frio na barriga, deixar o queixo cair ou as pernas amolecerem.
E o mais legal de tudo: olhar no olho dos descendentes dos povos originários, de norte a sul, da
Patagônia a Teotihuacan, e saber que essa terra infinitamente rica e tão colorida quanto um traje
típico dos Quiché da Guatemala, é deles - os povos que estão aqui há milhares de anos. Esse
pedaço de chão, empapado de suor e sangue, é o mesmo que deu a eles alimento, força e
sabedoria para resistir e perseverar.
Claro que estar em Machu Picchu era um sonho de menino. E realizei. Mas melhor ainda foi
perambular por aí, a esmo, pelas cidades, campos e matas latino-americanos. E como brasileiro,
sinto falta da tão sonhada integração – um pouco mais viva entre os falantes da língua
espanhola, mas tão distante dos falantes do português.
Nas corridas de cavalos em Todos Santos Cuchumatán, na Guatemala, pelas comemorações do
Dia dos Mortos. Nas peças de ouro e jade das culturas Nariño ou Tairona, na Colômbia. Nas
torres de pedra imponentes do Parque Nacional Torres del Paine, no Chile. Nas relíquias e
histórias contadas por ex-revolucionários do movimento Sandinista em León, na Nicarágua.
Nas cidades maias de Palenque e Tikal, esculpidas nas selvas mexicana e guatemalteca. Da
herança dos Incas, Maias, Mapuches, Zapatistas de Chiapas. Tudo foi aprendizado. Tudo valeu
a pena, porque a alma latino-americana nunca foi pequena.